terça-feira, 8 de fevereiro de 2005

- Dias melhores virão -

    Melhor do que estar com labirintite no carnaval é receber as visitas que eu recebo.
    Ontem, segunda-feira, veio um amigo do meu pai de muitos anos. E os tantos anos que eu conheço o sujeito, não me fizeram gostar dele nem um pouquinho. Casado pela sexta vez, 8 filhos, e com 3 processos por não pagar a pensão às ex-mulheres, o cara vive rindo. É tão sorridente quanto o turista alemão que vem ao Rio pela primeira vez e ainda não foi assaltado.
    Encurtando a história, o sujeito veio até o meu quarto com o meu pai para me cumprimentar. Estou deitado na cama, sem camisa e obviamente com as tatuagens aparecendo até para um cego. Estou lá me esforçando para ser simpático com o sujeito e recebo de presente a pérola:
    - Caramba, Fulaninho (meu pai)! Seu filho tem duas tatuagens no braço. Você deixou?
    Antes que meu pai respondesse:
    - Desde de 1998 ele não precisa deixar nada. Eu faço o que eu quero.
    Pobre infeliz me responde não sabendo o quanto eu tenho andando irritado, ou melhor, o quanto eu não tenho conseguido andar, mas irritado:
    - Mas essa daí é aquela temporária, né? Que sai depois.
    Eu já parecendo carro alegórico, soltando fumaça pelas orelhas:
    - NÃO.
    - Os dragões aí eu até acho legal, mas essa maior aí é o quê?
    Esse negócio de Big Brother e TV interativa contamina as pessoas. Elas agora acham que a opinião delas servem para tudo e para todos. Tem algum 0800 na minha testa, companheiro?!
    - Uma tribal abstrata. Não é nada, pelo menos, óbvio.
    - Ah, não! Tatuagem tem que ter um significado.
    Puta que pariu! Caralho! Cadê a minha arma? Cadê a minha arma?!
    - Não tem não.
    - Claro que tem. Como você vai andar com um desenho que não siginifica nada no braço a vida inteira? Assim não dá.
    - Dá sim.
    - Dá não.
    Como assim? Esse cara comeu merda?!
    Ainda tentei:
    - Olha um exemplo: você usa esse crucifixo aí no pescoço. É para representar sua fé e sua devoção na Igreja Católica, não é?
    - Que que tem?
    - Que que tem que para mim é o mesmo que estar usando um símbolo de hipocrisia. A Igreja na inquisição foi por muitos anos responsável por inúmeros assassinatos apenas para sufocar aqueles que pensavam diferente da sua palavra.
    Desculpem-me os católicos fervorosos. Eu não tenho nada contra qualquer religião. Isto era apenas uma argumentação contra um indivíduo apenas.
    - Isso é um ponto de vista...
    Cara! Como assim ponto de vista?! A Igreja matou, mutilou, torturou, queimou... Que ponto de vista é esse? Continuei:
    - Tá bom, então. Outro exemplo. Essa aliança que você usa aí é de qual esposa?
    O cara ficou me olhando meio esquisito e meu pai sem saber onde enfiar cara. Finalmente o sujeito respondeu:
    - Da atual - respondeu enfim.
    - Ahmmmmm... Certo. E a sua primeira esposa? Casou com ela na igreja? Teve aliança?
    - Teve. E daí?
    - E daí que a aliança, como o próprio nome diz, representa a união entre duas pessoas. E para a Igreja, e seus DEVOTOS, a união é para SEMPRE. Bom... eu não sou ninguém pra dizer nada, porque eu sou um zé mané que tatuou uma coisa no braço que não significa nada para o resto das pessoas, mas no seu caso, eu nem usaria esta aliança aí no seu dedo. Uma coisa é usar um símbolo sem significado, outra coisa é utilizar um símbolo com um dos significados mais sagrados da sua religião e simplesmente violá-lo seis vezes. Desculpa, mas é só um ponto de vista.
    Depois disso, o cara ainda tentou argumentar. Mas nesse ponto, minha paciência já tinha ido embora e me largado aqui com esse idiota. Tentando manter o mínimo de decoro por consideração a meu pai, ouvi os argumentos sem fundamentos do cara em silêncio.
    Tem horas que eu desejo ser surdo. Não, não! Invisível!

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