domingo, 25 de julho de 2004

- Ilusões: parte 2 de 3 -

    A janela do meu quarto estava aberta, contribuindo muito para o ambiente hibernal que estava instalado. Apesar de apreciar um friozinho, não costumo dormir com janelas abertas, pois temo por receber visitas da nossa vasta fauna noturna e alada.
    Ao fechar as cortinas, como minha janela dá para a garagem do prédio e moro no primeiro andar, foi inevitável que eu olhasse para os carros estacionados lá embaixo. No momento que eu checo um dos carros, de longe, vejo uma menina correndo entre duas vagas. O chato aqui, que nunca foi criança, pensa: “Droga! Isso não é hora de criança ficar correndo por aí, brincando. Ainda mais na garagem do prédio, pode acabar arranhando o carro de alguém”. Como possivelmente o único representante oficial do condomínio acordado a esta hora, decido averiguar.
    Desço pelas escadas que me poupariam muito o tempo de ficar esperando pelo elevador e chegaria mais rápido no térreo, talvez com tempo suficiente para ainda verificar a peripécia da infante.
    Fechada a porta da escada às minhas costas, vejo a menina correndo por trás dos carros. Confesso que antes, lá de cima, pensei que fosse a filha do porteiro, que adora ficar correndo, contra as recomendações do síndico, pela garagem. Mas agora vi que não. A menina possuía a pele branca e mesmo que tenha sido de relance, e não ter podido ver seu rosto, constatei que não era a moreninha, filha do porteiro.
    Fui em direção dos carros, tentando achar a menina, e possivelmente algum irresponsável por ela. Nenhum responsável, e após um rápido giro pelo pátio, nem a menina estava mais lá.
Tendo xingado tudo e todos, decido subir de volta pra casa. Estava frio, estava cansado e queria mais era dormir.
    Quase passando em frente à saída das escadas, ouço um risinho vindo lá de cima. Resolvido a subir de elevador, devido ao cansaço instalado, passei pelas escadas ignorando dessa vez a presença endiabrada da menina.
    Ao hall do elevador, vejo a porta se fechando e com uma certa resignação vejo que uma mulher tinha acabado de entrar na cabine. A porta se fecha e tudo que eu pude fazer foi pensar que finalmente algum adulto veio colocar a menina pra dentro de casa. 
    Não demorou muito e o elevador estava de volta, nem precisei chamá-lo. Claramente, a mulher sabia que eu estava lá, mas fez questão de não subir comigo.
    Tudo bem, pelo menos o problema estava resolvido. Subi. Bocejando e girando a chave na porta para entrar, ainda pude ouvir pela última vez as risadas infantis vindo das escadas. Pensei: “Vá, pestinha! Vá dormir!” – entrei.

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