quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

- Sabedorias do espelho -

    De nada adianta saber de muita coisa e na maior parte das vezes não saber exatamente do que se precisa no momento oportuno. Quando você checa seu baú cultural e verifica que aquele conhecimento específico e necessário foi deixado de fora do seu bat-cinto de utilidades naquela manhã é que você se dá conta da importância da capacidade de improviso. E sorte.
    Pois é... De que me adianta a faculdade, saber muito de números e computadores, pesquisas em Computação Algébrica, ler vários livros por ano, jornais, revistas, assistir documentários, poder debater sobre vários assuntos, ser barbado e tatuado mas não conseguir evitar de se deixar levar pelas emoções como uma criança de seis anos?
    Do que me adianta ser grande, viver no mundo dos adultos, amar gente grande e se deixar viver ilusões infantis?
    Por que eu não consigo aprender essas coisas? Será que preciso colocar em números? Será que preciso ler em um livro ou ver na TV para acreditar que aquela lição é para mim?
    Detesto me sentir confuso. Detesto sentir que eu meto os pés pelas mãos. E isso acontece. É raro, mas isso acontece. Pessoas fazem isso comigo.
    Perco os sentidos como um cão esfomeado deparando-se com um bife cru. Só existe aquele bife na sua frente, só o bife. O universo em volta sumiu, desparareceu. As chances, as possibilidades, a ordem, as regras, a realidade se foram. A fantasia é o que há. E tudo porque o fluxo entre o peito e o cérebro se embaraçam numa catástrofe de sentidos. Um caos incontrolável.
    E depois tudo volta para o lugar, como uma enxurrada ao inverso. É como se estivéssemos assistindo o filme de uma barragem se rompendo, mas de trás para frente. A barreira se rompe, inunda tudo abaixo dela. O fundo do lago antes represado começa a sentir os primeiros raios de Sol que a muito havia esquecido. E vem o conforto daquele calorzinho na pele. De repente, como se nada no mundo pudesse interromper aquele momento tão sublime, o desespero de toda aquela água escura e gelada vem tomar exatamente o lugar que ocupava antes. E você tem que se virar para suportar todo o desconforto novamente.
    A lição de Séneca deve ser útil para os jovens gafanhotos que ficam tontos facilmente, principalmente aqueles que se deixam levar pelos seus sentimentos mais nobres. Talvez valha mais a pena viver preparado psicologicamente para o pior, ser um pessimista moderado e controlado, do que ser um romântico otimista crônico e submeter-se a dores causadas apenas pela própria fantasia, fé e ansiedade.
    Pode ser que para certas pessoas a felicidade seja em tons de cinza e nunca seja cor de rosa como é para o resto dos mortais. Pode ser que para uns, ser feliz é simplesmente não ser tão infeliz, e para outros infelicidade nunca tenha existido.
    Seja como for, continuo aqui. Por fora, é a mesma represa, a mesma cor, a mesma paisagem. Mas de tanto vai-e-vem das águas, lá no fundo alguma coisa sempre muda, nem que seja o marco daquela lembracinha de raio de Sol que durou na sua vida por cinco minutos.

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