sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

- Destino a favor -

    Hoje acordei de madrugada para ir a um médico cuja consulta estava marcada desde Janeiro.
    Chegando lá, às 10:55 h, percebi que ainda esperaria alguns minutos até ser atendido. Aliás, por que os médicos marcam consultas de 15 e 15 minutos mas atendem todos os paciente em não menos do que meia hora? Será que precisa ser não médico para sacar que é por isso que você sempre tem que esperar quando vai a um consultório?
    Pelo menos a sala era agradável, com água, ar-condicionado, TV a cabo, a secretária não era tão ruim assim e a sala era espaçosa. Aliás, espaçosa demais.
    Enquanto esperava, havia um garotinho de dois anos que era o capeta. Era o capeta! Ele mexia em tudo. Até no meu celular quando peguei para ver as horas, o filhote-de-coisa ruim tentou tirar o aparelho das minhas mãos. E o pior, é que a mãe nem se manifestou. O capeta estava acompanhado da mãe que parecia mais uma Sucubu, e do Cérbero, mas estava disfarçado de avó do menino.
    Entre um rodopio e uma pisada no dedão de uma velhinha, o moleque acha uma régua atrás da mesa da secretária e profere:
    - Mamãe, olha! Achei uma espada.
    Nesse instante meus olhos brilharam, e olhei para os céus como que pedindo uma prece: "Que ele resolva ser engolidor de espadas. AGORA! Obrigado, meu bom Deus.".
    Mas Deus deveria estar cuidando de coisas mais urgentes como fazer a barba ou lavando a louça. Por isso, mais rápido do que os olhos pudessem enxergar, e seu cérebro de qualquer um pudesse entender, o garotinho gritou para o abajur que se encontrava logo a seu lado:
    - Um monstro! Iahhhhhhh!
    E o monstro, que planejava destruir todos nós na sala ficando parado sobre uma mesa de canto com a radiação de uma lâmpada de sessenta watts, é derrotado. Por algum motivo, o barulho deve ter irritado Cérbero que resolveu tentar acalmar o moleque sob vários pedidos de desculpa à secretária.
    Mas parece que o Diabo é surdo.
    Passa garotinho para lá, passa garotinho para cá, sobe no sofá, abre e fecha a porta, e nada da mãe perceber que foi ela quem pariu o diabinho.
    Notando o descontentamento do resto do universo, a secretária, abraçada por algum anjo de serão, em ambos os sentidos, se manifesta em benefício de todos e diz:
    - Lucas (nome da criatura), você quer desenhar?
    Pensei - "Ótimo! Desde que não seja em mim.". Olhei para o papel de parede de uma cor de creme, bem clarinho, e cheguei a conclusão de que a secretária só podia ser louca, ou o anjo que a abraçava na verdade era um demônio. O médico devia estar devendo alguma coisa a essa secretária, pois eu só conseguia vislumbrar uma decoração radical na sala de espera do consultório, imaginando um estojo nas mãos de Lucas.
    Luquinha querido resolveu sentar e colorir. Um minuto até ele fazer a descoberta da vida dele.
    - Mamãe, tem lápis branco!
    - Mas no papel branco não dá para usar, Luquinha. Só em lugar escuro - Sucubus abriu a boca pela primeira vez, contrariando minha teoria de que fosse muda.
    Eu que estava de jeans, camisa preta e tênis preto vi os olhos dos infernos brilhando em direção aos meus pés. Reagi por instinto que cultivo há anos.
    - Se Luquinha colocar lapisinho branquinho no pezinho do titiozinho aqui, Luquinha vai brincar de voar com titinho depois.
    Horrorizadas, Sucubus e Cérbero se prontificaram em proteger sua cria, deixando um clima horroroso na sala, só faltando mesmo a meia-luz e o odor de enxofre para se sentirem em casa.
    Antes que as coisas esquentassem mesmo, Papai do Céu teve um tempinho e olhou por todos nós. As portas da sala do médico se abriram e Luquinha foi chamado para ser atendido.
    Tomara que para ele seja caso de lobotomia.

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