quinta-feira, 7 de outubro de 2004

- As flores falam - Parte 2 -

    Seis de maio de 1994, sexta-feira, uma e meia da tarde.
    - Oi, mãe!
    - Oi, Gu! Como foi a escola hoje
    - Ah! Nada demais. Ganhei um ponto da professora de matemática II. Ah! E fiz isso aqui pra senhora na aula de artes. - Gustavo tira de uma pasta azul uma folha de papel e entrega pra mãe.
    - O que é isso? - pergunta a mãe, tentando ser mais sensível possível frente o trabalho do filho.
    - É um mosaico, mãe.
    - Eu sei que é um mosaico, Gu. Mas qual é a figura? É uma flor?
    - É, sim.
    - Que flor é essa?
    - É um lírio. Igual aqueles que tem no sítio da vovó. Tá vendo? A flor branca, caule verde...
    - Ah, sim! Ficou muito bonito, Gu. Posso colocar em uma moldura e pendurar na sala?
    - Pode, ué. - respondeu um menino tentando esconder o orgulho.
    - Então vou levar amanhã na vidraçaria e mandar emoldurar. Em dezembro, quando for seu aniversário, sua avó vai adorar ver seus trabalhos de arte da escola.

* * *

    Quinze de novembro de 1994, terça-feira, dez para as sete da noite.
    - Alô.
    - Oi, Neuza. É Edna. Estou ligando para saber se você tem notícias do menino.
    - Não. - responde a mãe, sonoramente abalada.
    - Olha, saiba que nós aqui estamos rezando muito por ele, por você e por sua família, está bem?
    - Obrigada, Edna. Vocês têm sido de um apoio que talvez nunca possa retribuir.
    - Faz um mês hoje, não é?
    - Sim.
    - Vocês estão mesmo organizando uma passeata no aniversário dele?
    - Estamos chamando as pessoas ainda. Quem pode colaborar nós estamos convidando a participar.
    - Que dia é mesmo?
    - Nove de dezembro. No dia mesmo do aniversário.
    - Pode contar conosco. Estaremos todos lá.
    - Obrigada, amiga.
    - Imagine. Bom, tenho que desligar pois a repartição está uma loucura hoje. Você nos faz falta aqui.
    - Eu também sinto falta de vocês.
    - Um beijo. Até logo.
    - Beijo. Até.
    Desde a fatídica noite, Neuza só consegue dormir sob efeito de remédios. Brigas passaram a ser comuns nos dias do casal. Mas Alberto e Neuza reconhecem que a força está na união deles, que neste momento precisam de um do outro, e que unidos conseguem reunir esperança de enfrentar a ausência do seu filho.

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