terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

- Sabedorias do espelho -

    Aí! Alguém sabe onde foi parar a humildade das pessoas? Teve um recall, ou algo assim, e não estou sabendo?
    Por que, hoje em dia, eu dificilmente encontro pessoas que são realmente boas no que fazem mas não conseguem ser humildes?
    Será que o mundo está tão exigente por super-homens e mulheres-maravilha que as pessoas são obrigadas a esconder suas fraquezas e não poderem admitir que não são perfeitas?
    Será que ser humano passou a ser um defeito? Será que as pessoas não conseguem enxergar que querer ser divino é a coisa menos divina que se pode fazer? Uma zebra nunca vai querer ser uma zebra, pois ela já é uma zebra. Ela pode desejar ser um gambá ou um leão, mas uma zebra jamais.
    Vamos lá, minha gente. Sejamos mais humildes. E espertos. De tanto andarem de nariz em pé, e fingindo ser o que não são, vão acabar morrendo atingidos por um raio.
    Sejam divinos sendo humildes. Se é que Deus existe, ele é tão humilde que nunca deu as caras para assinar a obra. Pensem nisso.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

- Sabedorias do espelho -

    Para que eu nunca esqueça, devo evitar as pessoas interesseiras por mais interessantes que sejam.
    Odeio interesse. Mesmo sendo cínico, eu não sou falso. Difícil mas é verdade. Eu não sou cínico para me aproveitar de alguém, ou para prejudicar alguém, mas há quem faça uso, digamos assim, desse talento.
    Às vezes, eu dou até uma de mal educado por pedir as coisas para alguém sem dizer "por favor", mas simplesmente é tão raro eu pedir favores a alguém, que eu simplesmente não construí o hábito de dizer. Da mesma forma, eu não sinto falta nenhuma de que me agradeçam por algum favor, pois se eu fiz é porque eu realmente não me importo de tê-lo feito, e não me custou mais do que eu podia arcar.
    É muito chato você só sacar que foi usado depois de um certo tempo, quando a pessoa já garantiu os espólios necessários. Ainda por cima, imaginem como é o conflito entre ficção e realidade para um paranóico assumido como eu. Difícil saber quando devo acreditar que estou sendo usado, ou deixar de dar crédito a esta sensação julgando ser apenas mais uma paranóia. Mas infelizmente é como dizem, o mundo é dos espertos, e eu sou só mais um otário. Cínico, mas otário.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

- Destino a favor -

    Eu sou o escolhido
    Fui solicitado por mamãe a acompanhá-la ao mercado. Concordei contanto que eu ficasse aguardando no estacionamento. Mas isso só porque eu não vejo o futuro.
    Parado, encostado no carro, fiquei lá por volta de uns trinta minutos até ser abordado por duas pessoas. Uma mulher nos seus trinta anos, e uma menina com não mais de doze.     A mulher começou se apresentando e a menina ao seu lado. Eram fiéis de uma igreja dessas da vida. Vieram gentilmente me oferecer a palavra de Jesus. Não tinha o menor interesse, mas sei lá, fiquei com medo de recusar a palavra. Preferi ficar calado e ouvir.
    A palestra começava com elas me dizendo que participavam de programas de auxílio para jovens dependentes químicos e que a palavra de Deus que elas levavam era importantíssima. Apresentaram-me uma oração, uma cartilha e um CD com partes da Bíblia, desde que eu colaborasse com um, três e cinco reais. Resolvi comprar a oração, mas a mulher continuou falando.
    Tive que interrompê-la e dei mais um real para comprar uma segunda oração. Agora assim a matraca parecia estar satisfeita e a palavra de Jesus saciada.
    Quando já estava me sentindo livre novamente, a fiel mais velha vomitou sobre mim todo o meu medo:
    - Agora podemos lher dar um presente e deixar Jesus tocar no seu coração?
    Meu queixo caiu tanto que eu nem sei como a minha resposta soou.
    - Eu prefiro não fazer nada.
    A mulher não desistiu.
    - Quem vai orar com você é a Fulana (a menina que a acompanhava).
    Pensei comigo mesmo: "Vai... Não há nada de mau nisso. Só mais uns instantes."
    Quando dei por mim, estava fingindo que orava com uma menininha, em pleno estacionamento de mãos dadas como numa corrente.
    Feito isso, as moças foram embora e cinco minutos depois surge mamãe cheia de sacolas. Quando fui atravessar a rua para ajudá-la, me passa um caminhão espirrando uma poça enorme sobre mim de lama.
    Fiquei tão puto, tão puto. Só me faltava aparecer um anjinho e me dizer que aquilo foi o meu batizado.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

- Só acontece aqui -

Imagem retirada do site de estatísticas deste blog.




Eu conto, mas ninguém acredita.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

- Sabedorias do Mestre Gambá Cachaceiro -

    As nossas vidas parecem ser nada mais do que um mosaico composto por eventos, alguns que escolhemos e outros não.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

- Destino a favor -

    Hoje acordei de madrugada para ir a um médico cuja consulta estava marcada desde Janeiro.
    Chegando lá, às 10:55 h, percebi que ainda esperaria alguns minutos até ser atendido. Aliás, por que os médicos marcam consultas de 15 e 15 minutos mas atendem todos os paciente em não menos do que meia hora? Será que precisa ser não médico para sacar que é por isso que você sempre tem que esperar quando vai a um consultório?
    Pelo menos a sala era agradável, com água, ar-condicionado, TV a cabo, a secretária não era tão ruim assim e a sala era espaçosa. Aliás, espaçosa demais.
    Enquanto esperava, havia um garotinho de dois anos que era o capeta. Era o capeta! Ele mexia em tudo. Até no meu celular quando peguei para ver as horas, o filhote-de-coisa ruim tentou tirar o aparelho das minhas mãos. E o pior, é que a mãe nem se manifestou. O capeta estava acompanhado da mãe que parecia mais uma Sucubu, e do Cérbero, mas estava disfarçado de avó do menino.
    Entre um rodopio e uma pisada no dedão de uma velhinha, o moleque acha uma régua atrás da mesa da secretária e profere:
    - Mamãe, olha! Achei uma espada.
    Nesse instante meus olhos brilharam, e olhei para os céus como que pedindo uma prece: "Que ele resolva ser engolidor de espadas. AGORA! Obrigado, meu bom Deus.".
    Mas Deus deveria estar cuidando de coisas mais urgentes como fazer a barba ou lavando a louça. Por isso, mais rápido do que os olhos pudessem enxergar, e seu cérebro de qualquer um pudesse entender, o garotinho gritou para o abajur que se encontrava logo a seu lado:
    - Um monstro! Iahhhhhhh!
    E o monstro, que planejava destruir todos nós na sala ficando parado sobre uma mesa de canto com a radiação de uma lâmpada de sessenta watts, é derrotado. Por algum motivo, o barulho deve ter irritado Cérbero que resolveu tentar acalmar o moleque sob vários pedidos de desculpa à secretária.
    Mas parece que o Diabo é surdo.
    Passa garotinho para lá, passa garotinho para cá, sobe no sofá, abre e fecha a porta, e nada da mãe perceber que foi ela quem pariu o diabinho.
    Notando o descontentamento do resto do universo, a secretária, abraçada por algum anjo de serão, em ambos os sentidos, se manifesta em benefício de todos e diz:
    - Lucas (nome da criatura), você quer desenhar?
    Pensei - "Ótimo! Desde que não seja em mim.". Olhei para o papel de parede de uma cor de creme, bem clarinho, e cheguei a conclusão de que a secretária só podia ser louca, ou o anjo que a abraçava na verdade era um demônio. O médico devia estar devendo alguma coisa a essa secretária, pois eu só conseguia vislumbrar uma decoração radical na sala de espera do consultório, imaginando um estojo nas mãos de Lucas.
    Luquinha querido resolveu sentar e colorir. Um minuto até ele fazer a descoberta da vida dele.
    - Mamãe, tem lápis branco!
    - Mas no papel branco não dá para usar, Luquinha. Só em lugar escuro - Sucubus abriu a boca pela primeira vez, contrariando minha teoria de que fosse muda.
    Eu que estava de jeans, camisa preta e tênis preto vi os olhos dos infernos brilhando em direção aos meus pés. Reagi por instinto que cultivo há anos.
    - Se Luquinha colocar lapisinho branquinho no pezinho do titiozinho aqui, Luquinha vai brincar de voar com titinho depois.
    Horrorizadas, Sucubus e Cérbero se prontificaram em proteger sua cria, deixando um clima horroroso na sala, só faltando mesmo a meia-luz e o odor de enxofre para se sentirem em casa.
    Antes que as coisas esquentassem mesmo, Papai do Céu teve um tempinho e olhou por todos nós. As portas da sala do médico se abriram e Luquinha foi chamado para ser atendido.
    Tomara que para ele seja caso de lobotomia.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

- Sabedorias do espelho -

    De nada adianta saber de muita coisa e na maior parte das vezes não saber exatamente do que se precisa no momento oportuno. Quando você checa seu baú cultural e verifica que aquele conhecimento específico e necessário foi deixado de fora do seu bat-cinto de utilidades naquela manhã é que você se dá conta da importância da capacidade de improviso. E sorte.
    Pois é... De que me adianta a faculdade, saber muito de números e computadores, pesquisas em Computação Algébrica, ler vários livros por ano, jornais, revistas, assistir documentários, poder debater sobre vários assuntos, ser barbado e tatuado mas não conseguir evitar de se deixar levar pelas emoções como uma criança de seis anos?
    Do que me adianta ser grande, viver no mundo dos adultos, amar gente grande e se deixar viver ilusões infantis?
    Por que eu não consigo aprender essas coisas? Será que preciso colocar em números? Será que preciso ler em um livro ou ver na TV para acreditar que aquela lição é para mim?
    Detesto me sentir confuso. Detesto sentir que eu meto os pés pelas mãos. E isso acontece. É raro, mas isso acontece. Pessoas fazem isso comigo.
    Perco os sentidos como um cão esfomeado deparando-se com um bife cru. Só existe aquele bife na sua frente, só o bife. O universo em volta sumiu, desparareceu. As chances, as possibilidades, a ordem, as regras, a realidade se foram. A fantasia é o que há. E tudo porque o fluxo entre o peito e o cérebro se embaraçam numa catástrofe de sentidos. Um caos incontrolável.
    E depois tudo volta para o lugar, como uma enxurrada ao inverso. É como se estivéssemos assistindo o filme de uma barragem se rompendo, mas de trás para frente. A barreira se rompe, inunda tudo abaixo dela. O fundo do lago antes represado começa a sentir os primeiros raios de Sol que a muito havia esquecido. E vem o conforto daquele calorzinho na pele. De repente, como se nada no mundo pudesse interromper aquele momento tão sublime, o desespero de toda aquela água escura e gelada vem tomar exatamente o lugar que ocupava antes. E você tem que se virar para suportar todo o desconforto novamente.
    A lição de Séneca deve ser útil para os jovens gafanhotos que ficam tontos facilmente, principalmente aqueles que se deixam levar pelos seus sentimentos mais nobres. Talvez valha mais a pena viver preparado psicologicamente para o pior, ser um pessimista moderado e controlado, do que ser um romântico otimista crônico e submeter-se a dores causadas apenas pela própria fantasia, fé e ansiedade.
    Pode ser que para certas pessoas a felicidade seja em tons de cinza e nunca seja cor de rosa como é para o resto dos mortais. Pode ser que para uns, ser feliz é simplesmente não ser tão infeliz, e para outros infelicidade nunca tenha existido.
    Seja como for, continuo aqui. Por fora, é a mesma represa, a mesma cor, a mesma paisagem. Mas de tanto vai-e-vem das águas, lá no fundo alguma coisa sempre muda, nem que seja o marco daquela lembracinha de raio de Sol que durou na sua vida por cinco minutos.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2005

- Dias melhores virão -

    Melhor do que estar com labirintite no carnaval é receber as visitas que eu recebo.
    Ontem, segunda-feira, veio um amigo do meu pai de muitos anos. E os tantos anos que eu conheço o sujeito, não me fizeram gostar dele nem um pouquinho. Casado pela sexta vez, 8 filhos, e com 3 processos por não pagar a pensão às ex-mulheres, o cara vive rindo. É tão sorridente quanto o turista alemão que vem ao Rio pela primeira vez e ainda não foi assaltado.
    Encurtando a história, o sujeito veio até o meu quarto com o meu pai para me cumprimentar. Estou deitado na cama, sem camisa e obviamente com as tatuagens aparecendo até para um cego. Estou lá me esforçando para ser simpático com o sujeito e recebo de presente a pérola:
    - Caramba, Fulaninho (meu pai)! Seu filho tem duas tatuagens no braço. Você deixou?
    Antes que meu pai respondesse:
    - Desde de 1998 ele não precisa deixar nada. Eu faço o que eu quero.
    Pobre infeliz me responde não sabendo o quanto eu tenho andando irritado, ou melhor, o quanto eu não tenho conseguido andar, mas irritado:
    - Mas essa daí é aquela temporária, né? Que sai depois.
    Eu já parecendo carro alegórico, soltando fumaça pelas orelhas:
    - NÃO.
    - Os dragões aí eu até acho legal, mas essa maior aí é o quê?
    Esse negócio de Big Brother e TV interativa contamina as pessoas. Elas agora acham que a opinião delas servem para tudo e para todos. Tem algum 0800 na minha testa, companheiro?!
    - Uma tribal abstrata. Não é nada, pelo menos, óbvio.
    - Ah, não! Tatuagem tem que ter um significado.
    Puta que pariu! Caralho! Cadê a minha arma? Cadê a minha arma?!
    - Não tem não.
    - Claro que tem. Como você vai andar com um desenho que não siginifica nada no braço a vida inteira? Assim não dá.
    - Dá sim.
    - Dá não.
    Como assim? Esse cara comeu merda?!
    Ainda tentei:
    - Olha um exemplo: você usa esse crucifixo aí no pescoço. É para representar sua fé e sua devoção na Igreja Católica, não é?
    - Que que tem?
    - Que que tem que para mim é o mesmo que estar usando um símbolo de hipocrisia. A Igreja na inquisição foi por muitos anos responsável por inúmeros assassinatos apenas para sufocar aqueles que pensavam diferente da sua palavra.
    Desculpem-me os católicos fervorosos. Eu não tenho nada contra qualquer religião. Isto era apenas uma argumentação contra um indivíduo apenas.
    - Isso é um ponto de vista...
    Cara! Como assim ponto de vista?! A Igreja matou, mutilou, torturou, queimou... Que ponto de vista é esse? Continuei:
    - Tá bom, então. Outro exemplo. Essa aliança que você usa aí é de qual esposa?
    O cara ficou me olhando meio esquisito e meu pai sem saber onde enfiar cara. Finalmente o sujeito respondeu:
    - Da atual - respondeu enfim.
    - Ahmmmmm... Certo. E a sua primeira esposa? Casou com ela na igreja? Teve aliança?
    - Teve. E daí?
    - E daí que a aliança, como o próprio nome diz, representa a união entre duas pessoas. E para a Igreja, e seus DEVOTOS, a união é para SEMPRE. Bom... eu não sou ninguém pra dizer nada, porque eu sou um zé mané que tatuou uma coisa no braço que não significa nada para o resto das pessoas, mas no seu caso, eu nem usaria esta aliança aí no seu dedo. Uma coisa é usar um símbolo sem significado, outra coisa é utilizar um símbolo com um dos significados mais sagrados da sua religião e simplesmente violá-lo seis vezes. Desculpa, mas é só um ponto de vista.
    Depois disso, o cara ainda tentou argumentar. Mas nesse ponto, minha paciência já tinha ido embora e me largado aqui com esse idiota. Tentando manter o mínimo de decoro por consideração a meu pai, ouvi os argumentos sem fundamentos do cara em silêncio.
    Tem horas que eu desejo ser surdo. Não, não! Invisível!