sábado, 31 de julho de 2004

- Sabedorias do Mestre Gambá Cachaceiro -

    Enquanto não termino esta bendita faculdade, sou obrigado a ficar me agarrando à qualquer oportunidade ordinária de se adquirir dinheiro.
    E como todo bom mercenário, para mim não existe trabalho ruim, existe pagamento insuficiente. Neste fim de semana surgiu um desses servicinhos ingratos que pintam somente para esfregar uma grana na sua cara, e debochar do seu último fim de semana das férias.
    É um serviço com ASP, coisa triste, eu sei, mas a remuneração sorri. Um cliente antigo, e possivelmente satisfeito, me procurou na quinta dizendo que vai ter que mudar seu provedor de hospedagem porque vai acrescentar umas ferramentas no site e blá blá blá. Acontece que com a mudança do servidor, o site deixou de funcionar por causa da organização do novo host. Em outras palavras o serviço é basicamente "suja a mão de graxa e põe esse trem rodando".
    E foi através de um e-mail que este cliente entrou em contato comigo, verificando se eu estaria disponível e quanto tempo levaria. Eu como sou o stress personificado, procurei um prazo longo já que eu tinha que reformular toda a forma de acesso ao banco de dados e blá blá blá. Já por telefone, chutei um prazo confortável:
    - Uma semana dá!
    Ele, como bom negociador, respondeu: "Tem como ser feito até segunda-feira? Posso pagar o dobro se for preciso. Preciso de urgência."
    Pensei comigo mesmo: "Para segunda-feira, fica apertado. Vou ter que trabalhar sexta, sábado e domingo. Sem parar provavelmente. Stress total. Que merda!" E ainda lembrando das minhas aulas de empreendedorismo, desenterrei as 3 cartas do negócio: tempo, poder e informação. Assim, acrescentei à decisão: "Tenho tempo, informação e poder. Tenho todas as 3 cartas, mas não tenho dinheiro".     Resposta automática:
    - Fechado. Pode me passar o login e senha de acesso, por favor? Até logo.

    Mas até agora não disse o que isso tem com o funcionário público.
    Na época que eu trabalhei na Prefeitura do Rio, eu também programava em ASP em um sisteminha lá. O gerento do setor era um completo analfabeto em informática. Se você tivesse crédito, ele acreditava em qualquer coisa que você dissesse. Naquela época as negociações eram bem diferentes. Um exemplo para vocês contrastarem com a de cima.
    Gerente:
    - Tem como você adicionar isso, isso e isso na página principal do sistema?
    Eu:
    - Dá.
    - É difícil?
    - É meio complicado.
    - Quando você acha que fica pronto?
    Aí, eu pensava: "Bom, isso é simples. Isso é fácil. Isso é ridículo... hum... 2 dias".
    Resposta:
    - Uma semana.
    - Ah! Poxa! Uma semana? Tudo isso?
    - É... Tenho que fazer uns testes e tal.
    - Então tá. Pode ser que no fim, role aquele bônus no fim do mês.
    - Ok. Vou começar agora.

    E era assim. Eu fazia tudo em 2 ou 3 dias e passava o resto da semana, chegando mais tarde e ouvindo música na minha baia. O melhor de tudo é que ainda ganhava o meu salário e mais um bônus.
    Saudades...

- Historinha para NÃO contar aos (seus) filhos -

    Nesta quina-feira, estavam em casa Gilberto, sua irmã mais nova, Marina e sua mãe, Ilda.
    A casa era velha, mas reformada. Era enorme. Deveria ter uns cinco andares ao todo. De dia era uma perdição, com terraço, piscina, salão de jogos e muito, muito espaço para apenas Gilberto e Marina aproveitarem sozinhos. De noite, era de dar arrepios. Para cada possibilidade de diversão que a casa poderia reservar durante o dia, existia um canto frio, sombrio e principalmente imaginativo depois do pôr do sol.
    Já passava da hora do almoço. Dona Ilda trabalhava fora, mas este mês estava de férias e dando uma ajuda para sua cunhada. Este semestre ela passou a receber todas terças e quintas-feiras sua sobrinha Valéria em casa para almoçar. Valéria estava terminando o último ano do ensino médio no turno da manhã, e como era ano de vestibular, a tarde tinha aulas de reforço e preparação para o concurso. Morava em um bairro distante da escola e por isso a necessidade do favor de Dona Ilda.
    Gilberto e Marina gostaram muito da idéia de Valéria vir almoçar na casa deles, pois além de serem muito amigos, Valéria como uma pessoa super divertida sempre alegrava o ambiente monótono do dia a dia desses dois.
    Depois de um mês recebendo a prima em casa, os dois filhos de Dona Ilda já sabiam a rotina, Gilberto abria a porta pra sua prima e colocava os pratos na mesa enquanto sua irmã e mãe esquentavam o almoço.
    Diferente das outra quintas, esta seria ligeiramente diferente para Gilberto. Ao horário habitual, por volta de meio-dia e quarenta e cinco, Valéria tocava a campainha. Seguindo o rito, Gilberto saía, prendia os cachorros no canil e abria o portão para Valéria. Tudo que tinha que fazer em seguida era ir para a cozinha, pegar tantos pratos quantos fossem necessários e colocar sobre a mesa.
    E assim foi feito. Depois de ter aberto a porta para sua prima, Gilberto foi para a cozinha, pegou os pratos e os colocou sobre a mesa. Por lá mesmo aguardou enquanto os demais não vinham para juntar-se a ele.
    Finalmente, elas surgiram na porta da sala de jantar. Foi uma surpresa tanto para Gilberto quanto para os que chegavam à mesa, e foi mais ou menos assim o diálogo iniciado por Dona Ilda:

    - Filho, para que estes cinco pratos na mesa? Somos apenas quatro.
    Gilberto respondeu surpreso:
    - Claro que não, mãe. Eu abri a porta pra Valéria e o amigo dela. Somos cinco. Por falar nisso, onde ele está?
    Neste ponto, Valéria entra na conversa, meio assustada:
    - Gil, eu vim sozinha. Onde você viu amigo meu?
    - Ué? Quando eu o vi, ele estava entrando aqui em casa logo atrás de você.

    E o silêncio fez o seu discurso.

quinta-feira, 29 de julho de 2004

- Sabedorias do espelho -

    Apesar de tudo que me fez falta na infância, não posso dizer que foi ruim. Não, de forma alguma! Mas digamos que desde jovem minhas próprias opiniões e conceitos são formados exclusivamente por mim e sempre me mantendo ao máximo de influências externas.
    Mas a moral de uma pessoa não pode ser construída sem influências. Não existe uma formação moral e ética sem a intromissão da sociedade na sua vida. Infelizmente, as pessoas nesse ponto, você querendo ou não, contribuem para o que você é e pensa hoje em dia.
    Eu me considero uma pessoa, digamos assim, moralmente sociável. Procuro ter um espaço da mente aberta para entender conceitos novos e sobretudo poder reconhecer falhas que são humanamente possíveis de existir no caráter de qualquer um. Entretanto, até hoje, uma dúvida me persegue. Eu simplesmente não sei se é "feio" sentir pena de pessoas. Eu acho que não consigo sentir pena de ninguém, e sinceramente não consigo distinguir se isso é bom ou ruim.

terça-feira, 27 de julho de 2004

- Sabedorias do Mestre Gambá Cachaceiro -

Ser o que sou não justifica o que faço.

segunda-feira, 26 de julho de 2004

- Ilusões: parte final -

    Pela manhã, após uma noite (manhã) terrível de sono, acordo lá pelas onze e tantas com meu pai me descobrindo para que acordasse com o frio incômodo congelando as extremidades dos meus dedos dos pés. 
    O dia transcorre normalmente. Eu sob aquele mau humor crônico agudo vejo laconicamente o domingo de toda semana se instaurar. Minha irmã e meu cunhado conseguiram acordar só pelas treze horas, praticamente pra almoçar, e meus pais chegaram cedo em casa, a tempo do meu pai poder ver a corrida e me acordar.
    De tarde tinha uma ida programada ao cinema. Tomo meu banho, me arrumo e já na saída de casa, vêm aquelas recomendações de mãe:
    - Meu filho, cuidado por aí. Dirija devagar, principalmente por aqui perto de casa. Só tem louco dirigindo.
    - Ué, mãe? E desde quando eu corro?
    - Você não, mas cuidado com os outros. O porteiro veio me falar agora quando chegamos que sexta-feira que passou, uma mulher e a filha foram mortas num atropelamento aqui na esquina. Tenha cuidado.
    - ...Terei.

domingo, 25 de julho de 2004

- Ilusões: parte 2 de 3 -

    A janela do meu quarto estava aberta, contribuindo muito para o ambiente hibernal que estava instalado. Apesar de apreciar um friozinho, não costumo dormir com janelas abertas, pois temo por receber visitas da nossa vasta fauna noturna e alada.
    Ao fechar as cortinas, como minha janela dá para a garagem do prédio e moro no primeiro andar, foi inevitável que eu olhasse para os carros estacionados lá embaixo. No momento que eu checo um dos carros, de longe, vejo uma menina correndo entre duas vagas. O chato aqui, que nunca foi criança, pensa: “Droga! Isso não é hora de criança ficar correndo por aí, brincando. Ainda mais na garagem do prédio, pode acabar arranhando o carro de alguém”. Como possivelmente o único representante oficial do condomínio acordado a esta hora, decido averiguar.
    Desço pelas escadas que me poupariam muito o tempo de ficar esperando pelo elevador e chegaria mais rápido no térreo, talvez com tempo suficiente para ainda verificar a peripécia da infante.
    Fechada a porta da escada às minhas costas, vejo a menina correndo por trás dos carros. Confesso que antes, lá de cima, pensei que fosse a filha do porteiro, que adora ficar correndo, contra as recomendações do síndico, pela garagem. Mas agora vi que não. A menina possuía a pele branca e mesmo que tenha sido de relance, e não ter podido ver seu rosto, constatei que não era a moreninha, filha do porteiro.
    Fui em direção dos carros, tentando achar a menina, e possivelmente algum irresponsável por ela. Nenhum responsável, e após um rápido giro pelo pátio, nem a menina estava mais lá.
Tendo xingado tudo e todos, decido subir de volta pra casa. Estava frio, estava cansado e queria mais era dormir.
    Quase passando em frente à saída das escadas, ouço um risinho vindo lá de cima. Resolvido a subir de elevador, devido ao cansaço instalado, passei pelas escadas ignorando dessa vez a presença endiabrada da menina.
    Ao hall do elevador, vejo a porta se fechando e com uma certa resignação vejo que uma mulher tinha acabado de entrar na cabine. A porta se fecha e tudo que eu pude fazer foi pensar que finalmente algum adulto veio colocar a menina pra dentro de casa. 
    Não demorou muito e o elevador estava de volta, nem precisei chamá-lo. Claramente, a mulher sabia que eu estava lá, mas fez questão de não subir comigo.
    Tudo bem, pelo menos o problema estava resolvido. Subi. Bocejando e girando a chave na porta para entrar, ainda pude ouvir pela última vez as risadas infantis vindo das escadas. Pensei: “Vá, pestinha! Vá dormir!” – entrei.

sábado, 24 de julho de 2004

- Ilusões: parte 1 de 3 -

    Meus pais saíram na sexta. Parece que tinham um aniversário de um amigo para ir. Amigo residente num município desses não muito longe, mas não perto suficiente para se ir e voltar no mesmo dia, principalmente depois de uma festança. Prometeram voltar antes do almoço de domingo.
    Minha irmã também saiu. Ela e o noivo saíram por volta das vinte e três horas, portanto não devo esperar que cheguem tão cedo. Eles não estavam muito bem. Algum stress idiota da minha irmã pelo meu cunhado ter chegado de viagem pela marinha e não ter ido vê-la antes de ter ido visitar os próprios pais. Com certo esforço ainda me recordo da tromba, inutilmente ofensiva da menor abandonada de 24 anos, e a expressão de não-fui-eu do garotinho de 26 que a acompanhava.
    Portanto fiquei sozinho. Na verdade meu cachorro restou pra compartilhar seus roncos comigo. Sem ter muito o quê fazer, fiquei assistindo TV e lendo um livro.
Numa das alternâncias entre ler o livro aguardando o comercial passar, e assistir um programa sem graça, acabei pegando no sono. E foi ali, no sofá da sala, que acabei por desmaiar, todo torto no sofá. Não sei dizer que horas isso aconteceu, mas deve ter sido algo entre uma e duas horas da madrugada de domingo.
    Horas mais tarde, acordo ouvindo um choro de mulher. Era um choro chato e incessante, de uma pessoa aflita. Logo penso que seria minha irmã, que supostamente havia resolvido, de uma forma ou de outra, seu problema com o noivo.
    Resolvi ir encontrá-la, ver se podia fazer alguma coisa. Não costumo ser amoroso ou atencioso, mas pelo choro, ela estava parecendo muito angustiada, como se tivesse perdido a coisa mais importante do mundo.
    Encaminhei-me ao seu quarto. Ainda caminhando no corredor, noto que o choro cessa, passando dos soluços a pequenos e profundos suspiros. Chegando lá, para minha surpresa, o quarto está vazio. Luz apagada, cama por fazer, tudo desarrumado como de costume. Fui ao quarto dos meus pais. Nada. Decidi revirar a casa. Varandas, cozinha, quarto de empregada, banheiros. Nada. Estava sozinho.
    Convenci-me de que podia ser alguém no prédio, e saindo do domínio daqui de casa, não posso fazer muito por essa pessoa.
    Olhei pro relógio, quatro e meia da manhã. Decidi voltar a dormir, mas na minha cama, sob meu cobertor, pois com o passar das horas a noite resolvia esfriar.Como é o hábito de quando estou sozinho, retornei aos cômodos apagando todas a luzes e fechando todas as janelas. Fechei as portas da varanda e fui deitar.

domingo, 18 de julho de 2004

- Dias melhores virão -

    Esta noite foi terrível. Deve ser por causa da ansiedade que estou vivendo. Ansiedade tanta que está perturbando até os meus pesadelos. E por causa disso na noite que passou, experimentei o pior pesadelo da minha vida até hoje. Sonhei que estava dando um fora na Halle Berry. Acreditem.
   Ela insistiu pra gente ficar e eu persistia dizendo que não dava mais, pois nosso relacionamento estava esgotado e tudo mais. Ainda disse que o James Bond que ela fez tinha sido a gota d'agua. Tadinha! Ela até chorou no meu pesadelo, mas pra reforçar minha decisão eu ainda disse que já tinha outra mulher na jogada. Que mulher, cara? Se você tem a Halle Bery, não existe outra mulher. Dimensionem o meu desespero.
   Que isso, né? A vontade que eu tive quando acordei era de ligar pra ela pra ver que era só um sonho mesmo e constatar que nossa relação continua intacta.

sexta-feira, 16 de julho de 2004

- Eureka! -

    Não sou eu que sou complicado. O mundo que é simples demais.

quinta-feira, 15 de julho de 2004

- Conselho grátis -

    Tudo bem que eu não acabei de ler agora o livro, mas só pude não parar pra pensar o quê escrever sobre ele depois das provas.
    O livro é curto e a estória é boa.
    Para os mais interessados, o livro conta a fábula de uma granja onde os bichos são cruelmente explorados. Um dia decidem tomar a granja da direção dos humanos, expulsando-os de lá e tomando tudo. O livro se desenvolve sobre os problemas e êxitos dos bichos pondo em prática a nova ordem.
    Eu li esse livro só agora e lamento não ter lido uns 4 anos atrás, pois ele te coloca em uma perspectiva social de forma simples e eficiente. Recomendo a todos os politizados e mais ainda aos menos politizados.

    Cuidado pra não descobrir que é um porco no fim de tudo.

terça-feira, 13 de julho de 2004

- Dias melhores virão -

    Fato: Estou solteiro.

    Lado pessimista: Está faltando alguém na minha vida.
    Lado otimista: Pelo menos nossa sociedade é (oficialmente) monogâmica, então meu score é só de -1 alguém.

- Minimalismo -

    Tento, tento. Só me arrebento.

- Dias melhores virão -

    ... se eu fosse um oitavo anão na fábula da Branca de Neve, eu teria sido o Chato e faria compania aos colegas Atchim, Soneca, Dunga, Zangado, Feliz, Mestre e Dengoso*. Até faz sentido porque eu nunca iria aguentar conviver com aquela alegria urticante desses personagens.
    Acho que se a vida fosse um desenho animado, eu seria aquela hiena do desenho Lippy (o leão) e Hardy**. Este sim é o meu retrato cartoonizado.




    *só fiz questão de listar os nomes porque levei algum tempo pra achar esses malditos no Google.

    **se você tem menos de 22 anos, acho que dificilmente este post fará algum sentido sem conhecer Lippy e Hardy.

sexta-feira, 9 de julho de 2004

- Dias melhores virão -

    ... estar assistindo um filme de terror sozinho, à noite, na sala toda escura, e gritar fantasmagoricamente "Uahahahahaha!", tentando assustar você mesmo.

quinta-feira, 8 de julho de 2004

- Minimalismo -

    Dar e receber pode cansar.
    Dar e NÃO receber vai cansar.

segunda-feira, 5 de julho de 2004

- Sonhou? Tá sonhado -

    Eu estava numa praia, pescando, e várias pessoas conhecidas por perto.
    Era um fim de tarde, uma praia bonita, e um frio grotesco. Parecia muito com uma das praias que visitei em Florianópolis. O que lembro mais intensamente do sonho era que eu estava tentando pescar mas toda vez que eu ia me preparar pra arremessar o chumbo, eu esquecia completamente de como se fazia, armar molinete e etc.
    Toda vez que isso acontecia, alguém vinha e me ensinava como se fazia. Aliás, TODOS tiveram sua vez de me explicar porque assim que a explicação acabava, eu ia fazer uma tentativa mas já havia esquecido de tudo.
    A situação ficou desesperadora. Estava completamente derrotado por não conseguira aprender aquilo que eu sabia ser uma coisa estúpida, e sem contar a humilhação de todos à minha volta estarem vendo meu fracasso.
    Estive tão perturbado que acordei com os olhos túrgidos em lágrimas.
    Detalhe para aqueles que gostam de interpretar sonhos ou aqueles que não consideraram o sonho bizarro: a minha vara de pescar era na verdade um grande guarda-chuva preto, fechado.

    Por que nosso inconsciente se comunica por engimas? Eu hein! Quanta cerimônia! Manda um e-mail e não enche o saco, porra!

sexta-feira, 2 de julho de 2004

- Minimalismo -

A felicidade bateu à minha porta ... -




... mas era engano.

(Óbvio!)